Extinção das espécies
Há uma extinção em massa, em Portugal, na Europa, e um pouco por todo o mundo. A extinção das classes médias. É notório a afirmação de que as desigualdades infra-nacionais estão a aumentar em todas as Nações. Os mais ricos vão ficando cada vez mais ricos e os mais pobres cada vez mais pobres. Há uma propagação demográfica da classe mais desfavorecida, não só porque os cidadãos das classes médias vão sendo empurrados para as classes mais baixas, como também pelo facto de nas classes mais baixas o índice de natalidade ser superior ao índice de natalidade das classes mais altas. O esmagamento salarial pelo mais baixo possível, a pretexto de sobrevivencia económica, a retirada massiva de trabalho a todo o tipo de trabalhadores, seja o trabalhador especializado, seja o trabalhador de colarinho branco, seja o trabalhador não especializado, pela automação, informatização, digitalização, robotização, etc, veio acelerar um fenómeno que se manifestava como tendência, com um impacto imediato e facilmente verificável dos dias que correm: as gerações mais novas sofrem com a falta de oportunidades, com o desemprego, com a instabilidade, com a falta de formação, por conseguinte, com a falta de rendimentos e consequente falta de poder de compra face às gerações que a precederam. O capitalismo selvagem é isto! É o aproveitamento neo-liberal da ganância humana de meia dúzia em detrimento da vida de biliões de pessoas. A continuação do aumento da população mundial aproveita, e muito, apenas e só, a uma classe: à classe dos capitalistas, dos ricos. Por isso, muito se tem divulgado a imagem pós contemporânea dos benefícios e "novas tendências" dos jovens do futuro, presente: os espaços de co-working, o co-living, o car-sharing, todos estes "co's" e "shares" mais não são do que a areia que esconde a realidade da destruição da dignidade das classes médias e média-baixas. O alargamento manifesto de "tendências culturais" violadoras de imperativos éticos e de "pacta sunt servanda" é uma realidade que já transpôs fronteiras e que se verifica quotidianamente, sobretudo onde a "selva humana" é mais concorrencial, mais dura a sobrevivência, na senda de Darwin, na sua trasposição para o social, o salve-se quem puder e como puder. A geo-finança mundial é o instrumento de liquidação da dignidade e da vida dos cidadãos. Opacamente, esta tem manipulado actores políticos, actores económicos, actores judiciais, actuando em diversos sectores económicos, sendo o mais premente o sector, por inerência, bancário/financeiro. Este sector tem levado a que os cidadãos não consigam viver com dignidade, escondendo as suas carências e vivendo de formas creditórias pouco racionais. Uma das formas creditórias mais difíceis de escapar é a questão da habitação. Um pouco por todo o lado, a aposta dos futuros no caminho do aumento mundial demográfico fez disparar a valoração de bens imóveis, pelo que o comum mortal necessita de uma taxa de esforço de mais de 50% dos seus rendimentos para poder viver debaixo de um tecto. Ora isto é completamente absurdo! É a denegação do sentido da palavra viver para qualquer cidadão. É a exclusão, desilusão com um sistema concluiado com meia dúzia de multi-milionários, e da selva imperial do dinheiro como valor supremo do mundo. A classe média é a única que pode fazer frente a este avanço e abrir os olhos aos poderes, regalias e vampirismos do sector bancário e financeiro. Está na hora de abrir os olhos, fazer as perguntas certas e saber para onde vai o nosso dinheiro, para que o bem comum não seja transformado no mal comum. Chega!