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Multipolar é uma palavra em português com multiplos significados. Tanto pode ser utilizado no campo das doenças mentais dos individuos, como pode ser utilizado como conceito caracterizador e adjetivador do mundo nas relações internacionais, como, na extração original do seu significado pela física, simples e simplisticamente como algo que tem mais de dois pólos. Vivemos num mundo multipolar nas suas aceções e Portugal é um exemplo notório disso, talvez mais do que outros países e outras culturas. O país tem uma História longa e complexa: se por um lado somos filhos dos italianos, por outro somos pais dos brasileiros, e ainda temos o irmão desavindo aqui ao lado e uns quantos de afilhados espalhados pelo mundo. Enquanto povo, temos de nós próprios imagens distintas, temos o fado e a melancolia, temo-nos como um povo simpático e resiliente, mas depois também nos temos (normalmente apontamos aos outros) como preguiçosos, egoístas, vigaristas. Confesso que por parte de estrangeiros também já ouvi os dois pólos, povo bom, simpático, simples, trabalhador, humilde, lutador, empreendedor, como já ouvi que somos atrasados, arrogantes, maus, invejosos, preguiçosos e aldrabões. Creio que somos um povo multipolar, sim! Por isso temos muuuuuuito a aprender para alcançar um denominador comum que faça de nós um povo (ainda) melhor! O país tem uma história de glória floreada, mas difícil, de sobrevivência nas adversidades e na pobreza. Continuamos extremamente pobres! Hoje foi noticiado que, para efeitos fiscais é considerado rico quem ganha tanto ou mais do que......quem ganha o salário mínimos nacional em países europeus como Holanda, Bélgica, França ou Alemanha, para não falar da Suíça e do Luxemburgo. Abstenho-me de comentar.....Com o 25 de Abril, Portugal sofreu transformações: consolidou instituições democráticas, políticas e de outras ordens. A confiança de um povo nessa nova era de esperança após um período de ditadura prolongado deu alento e optimismo durante décadas; conquistou avanços sociais, em vários domínios mais gerais ou mais específicos, na concretização de ideais de igualdade e tolerância a sectores sociais e a cidadãos e cidadãs comuns numa base diária e sociológicamente visível; conquistou avanços na sua própria imagem internacional, como país igual, de Estado de Direito, desenvolvido porque europeu, mas ainda não conquistou avanços económicos significativos, repito, significativos, para que possa depender de si próprio enquanto Estado produtor e gerador de uma economia saudável, concorrencial, sustentável e humanamente civilizada ou não selvagem. Um dos problemas é sermos pequenos em termos territoriais mas também, e sobretudo, pequenos em termos mentais e comportamentais. Num momento em que escândalos de corrupção se sucedem a escândalos das instituições de inquérito, controle e punição, como o são as instituições da Justiça pelo mesmo motivo, o Estado de Direito fica em xeque. Num momento em que um vírus pouco mortal comparado com tantas outras causas de morte não naturais dos cidadãos arrasta economias e comportamentos esquizofrénicos para algo irracional, fica em xeque a solidez das sociedades. Num momento em que os recursos naturais cada vez escasseiam mais, em que a poluição cada vez mais destrói o planeta, não conhecendo fronteiras, e em que a pressão demográfica mais do que aliviar, agrava, e bastante, o planeta, as interrogações da (in)sanidade do mundo colocam-se reiteradamente. Para o cidadão bom e cumpridor, o sistema está podre e o sentimento de impotência, revolta e conformismo, por esta ordem, e até ver, consolida-se. Consolida-se também, ainda que em linguagem corrente e não técnica a necessidade de questionamento do funcionamento das instituições de Justiça, e das premissas em que assenta o direito penal geral, em particular. Sonhos de penalização mais gravosa e, até, eliminação dos maus, a um estilo semelhante ao "Minority Report" mas numa prespectiva pós, porque nos falta a tecnologia avançada para a concretização da perspetiva pré, vai ganhando cada vez mais adeptos. Por outro lado, a falta de organização e de fiscalização/auditoria é, de facto, algo intrínseco que faz parte da nossa cultura e do nosso atraso atávico, que tem de ser eliminado para conseguirmos expurgar uma parte significativa do mau que temos em nós. Precisamos, enquanto povo, de aprender com as outras culturas, com todas elas, sublinho, com todas elas, para o bem e para o mal, sim, para o bem e para o mal. Depois, cada um de nós escolherá, individualmente, como quererá ser recordado e, enquanto comunidade como quererá ser vista. Há dias foi-me relatada uma situação real: uma jovem acabada de mestrar, havia concorrido para um museu dinamarquês onde era obrigatório o envio de uma carta de recomendação. A inocente miúda contactou o seu orientador, que não se negando a tal, nunca mais lhe respondeu a e-mails ou telefonemas. O que ganhou ele com isso??? Porquê o egoísmo e maldade gratuita reinante e marcante neste país? Será que nunca iremos entender que é em espírito de união, entreajuda e altruísmo, união, entreajuda e altruísmo, que poderemos ser melhores? Que poderemos deixar de classificar os ricos deste país como os equivalentes a qualquer cidadão europeu? Somos tão pobres assim? De espírito? Os portugueses emigrantes, independentemente da sua situação económica, mas sobretudo os mais pobres, conseguiram crescer, interiormente, e nas suas comunidades, muitas vezes sob o ponto de vista material, de uma forma que nunca conseguiriam em Portugal, e nunca, infelizmente, tendo em conta apenas as condicionantes económico/políticas, que as houve, há e haverá, naturalmente. É cultural! Comummente se ouve críticas, par dar dois exemplos rápidos, aos EUA e ao Brasil. Do pouco que conheço, vejo muita literatura apologista da busca de mentores, de modelos, num espírito de ação e empreendorismo, de modelos sociais de voluntariado e de espírito verdadeiramente comunitário, que muito tem para nos ensinar. O mesmo no Brasil, país marcadamente influenciado pelo primeiro, no que este tem de bom e de mau. Mas o bom está lá muito marcado e acentuado: a busca de mentores, a ajuda altruísta, o espírito comunitário, com a diferença que os EUA, por motivos culturais possuem uma marcada ênfase comercial, e os brasileiros, por motivos culturais, uma marcada ênfase dialogal: tudo e sobre tudo se conversa e se conversa tão constantemente, como mais em parte alguma do mundo. De facto, os melhores oradores vêm destes países. Nós, calados, fazemos pela calada, o bom e o mau, o bom porque não somos (re)conhecidos, o mau porque somos assim.....infelizmente. Também pegando nestes dois países, de um dizemos que são o piorio, numa falsa aura moral que tentamos manifestar fruto, eventualmente de algum complexo de inferioridade, no entanto os EUA são o país mais avançado do mundo em tantos domínios! Do Brasil falamos também coisas más que me abstenho de adjectivar e que não têm conhecimentos sólidos das coisas. Será??? Posso arriscar que têm conhecimentos sólidos na natureza humana e na vida em sociedade/comunidade. Para quê ter conhecimentos de 3 anos em latim e de chafurdar em tanto conhecimento académico inútil de um sistema educativo da Idade Média, na forma e no conteúdo, que nos continua a ludibriar? Andamos enganados? Sim!!! Vemos a vida a passar, literalmente, a vida a passar, as injustiças a acontecer, com os outros e connosco, e tanto impacto têm em nós!!! Injustiças com as quais não conseguimos lutar, porque o sistema está podre, porque a cultura é f####!!! Somos multipolares, andamos à deriva, económica, cultural e espiritualmente, egoísticamente inferiorizados. É uma pena, portugueses contra portugueses, com tanto potencial para fazer vingar um jogo win-win entre todos, no país e no mundo, mas prefere a luta de todos contra todos, do loose, loose. Perdemos todos.