Planeamentos planificados
Portugal é um país pobre. A ruralidade foi a sua marca desde há vários séculos, tendo sido uma das causas da falta de desenvolvimento do país, a par do seu analfabetismo. Após uma ditadura de mais de 40 anos que precisamente apostava na continuidade de um modelo de cidadania assente na ignorância e desconhecimento e na ruralidade de um povo conservador e castrado apenas gozando de felicidade nas vitórias do glorioso. Após o 25 de Abril, que nos livrou da guerra e da ditadura dos "lentes". O país conheceu um desenvolvimento extraordinário em muito pouco tempo, em termos sociais, económicos, culturais e políticos, porém ainda pode fazer um esforço maior e mais rápido se souber delinear uma planificação a curto, médio, longo prazo, mas não tão longo porque, como dizia o outro " a longo prazo estamos todos mortos". Não podemos cair na imagem acima destacada, ela tem de fazer parte do nosso passado. Para quem como eu passou 3 anos obrigada a estudar latim, confesso, que sempre senti o ensino, até no seguimento escolar seguinte um absurdo dada a anacrocidade da Educação, com tantos problemas que tem em termos conceptuais e justamente o verdadeiro motor de alavancagem de qualquer desenvolvimento económico-social. Ou não. Frequentar a escola não é sinónimo de melhor condição de vida uma vez que na escola não se aprende o que se deveria aprender....Daí a importância de outra escola, a escola da vida. A educação e seu acesso, por outro lado, moldam as sociedades para direções não planeadas justamento por cederem às forças lobistas de interesses enraizados e corporativos que vêm de vários lados, de empresas, de professores, de ordens profissionais, etc....Por exemplo, o país constrangiu durante décadas o acesso, através de números clausus, a cursos como o de medicina, e o resultado (a falta de visão) paga-se caro, porque são profissionais necessários em qualquer sociedade sobretudo naquelas em rápido envelhecimento como a nossa. O sector da saúde é, por isso, também, um dos sectores onde mais se sente a falta de gestão, organização, planeamento, porque podemos ser trabalhadores em educação mas sem saúde ninguém trabalha, e na produtividade, as questões da saúde (ou falta dela) são por demais importantes havendo diversos estudos sobre o impacto das mesmas. Todo o mundo ao longo da sua vida profissional tem mais do que um problema de saúde grave, quando não tem um problema grave prolongado e subsistente, no entanto, não há aposta na investigação científica, não há aposta nos profissionais do terreno (públicos ou privados) independentemente da sua função, não há aposta num sector que deveria ser uma prioridade pois assenta numa necessidade básica universal, e por isso, facilmente "exportável", fosse na área de serviços, fosse na área científica, fosse na área académica, fosse nas áreas industriais, onde a interdisciplinariedade vai ser cada vez maior. Esta é uma avaliação estrutural (não conjuntural) e pessoal, claro. Por outro lado, os poderes públicos fazem os esforços possíveis, mas não tentam os impossíveis (e se os governantes ganhassem o seu salário em função dos resultados apresentados? interessante não?) para claramente avaliar o país e as suas necessidades destacando as áreas de concorrência onde, num mundo em rede e globalizado, mais apetência e razão apresentariam face aos outros Estados? outro exemplo. Portugal e Holanda. Foi aberto um braço de ferro entre os holandeses e os países do sul tidos como preguiçosos. A Holanda, país que vive da exportação de flores, do turismo das drogas leves e ruas vermelhas, do paraíso fiscal e dos portos de abastecimento marítimo obviamente não tem interesse e tudo fará (como sempre fez) de impedir que Portugal tenha uma estrutura competitiva, em termos aeroportuários e ferroviários, uma vez que isso lhes faria concorrência directa nas suas actividades económicas principais, no entanto Portugal tem tudo para ser logisticamente a porta de entrada, como sempre foi, por via marítima de bens vindos de todo o globo, sobretudo das américas e das àfricas. Falta vontade e estratégia para combater estas manipulações e movimentações intra-europeias se os Estados prosseguirem os seus interesses exclusivos em detrimento do interesse colectivo da União. Por causa da riqueza da sabedoria da sua história não se pode julgar os ingleses por terem deixado a UE, ou, mesmo antes disso, nem sequer terem entrado na moeda única. Estamos a aproximar-nos de momentos decisivos na política europeia e mundial e, por isso, sobretudo, nacional. É hora de olhar o país com olhos de ver e agir deixando o imobilismo e laxismo de lado bem como, também, o ignorismo, pois somos um grande povo mas crédulo e bom na sua essência. A mudança já vai tarde porque no curto prazo estamos todos vivos.....