Futuro diferente com marco viral
Num momento em que, como afirmou Paul Krugman, continuamos a viver com as economias mundiais em coma induzido, a necessidade de reflexão sobre o futuro e sobre a alteração necessária do nosso modus vivendi no planeta torna-se imperativo, não como exercício mental mas, para além disso, como criação de bases sustentatórias das mudanças imprescindíveis para as alterações fundamentais a fazer. A acção tem de ser já. O planeta continua a viver sob diversas ameaças, biológicas, sociais, económicas e políticas. As ameaças biológicas estão à vista com o tempo em que vivemos, com a necessidade de reflexão acerca do que queremos ser, de como queremos ser cuidados e acompanhados ao longo da nossa vida. De repente, os sistemas nacionais de saúde tornaram-se o alvo do agenda setting dos media. Acresce que, naturalmente, se tornaram também tema o Estado enquanto suporte básico desta instituição pública, latu sensu, o grau de intervencionismo e o financiamento do mesmo bem como dos seus concorrentes ou complementares sistemas ou instituições privados. Acresce a importância da ciência, da investigação e da inovação na forma e impacto que deverá ter nas sociedades, em todos os domínios, e, naturalmente também neste, uma vez que os cuidadores são profissionais que nunca poderão ser substituídos pelas máquinas, apenas, e bem, coadjuvados. Infelizmente, desde o início da história da humanidade que os cuidadores são esmagadora maioria das vezes informais, esmagadora maioria das vezes em continuidade temporal, esmagadora maioria das vezes mulheres, esmagadora maioria das vezes, não remunerados. Poderá passar por aqui uma novaa visão de uma sociedade mais equilibrada e mais desenvolvida? Quem sabe...Os desequilíbrios económicos gerados pelas crises, independentemente das suas causas, afectam sempre com mais intensidade os mais fracos, mais desfavorecidos, pelo que está já provado um aumento do coeficiente de Gini, o indicador que mede as desigualdades sociais, após situações de crises económicas. O mundo caminha em termos económico-sociais, por isso, para um aumento ainda maior das desigualdades, e para um aumento dos níveis de desemprego e de precarização laboral. Os níveis de desemprego aumentam e aumentarão pelo resultado desta crise pandémica, mas também pelo que já se vinha vindo a verificar em algumas partes do mundo, com mais oi menos intensidade: a automatização, a inteligência artificial e a robótica. Se o homem souber gerir a forma como usará a inteligência artificial esta poderá proporcionar-nos ganhos ilimitados e exponenciais num curto prazo de tempo. Já a automatização e a robótica, de certa forma, poderão atingir um nível finito de desenvolvimento, para além de que serão estes sectores tecnológicos a roubar mais postos de trabalho aos seres humanos, do que propriamente a ascenção da inteligência artificial (que irá gerar novos empregos e novas profissões). Alinham-se timidamente duas utopias concretizáveis complementares para a solução destes desafios económico-sociais. Uma dessas utopias é a implementação de um rendimento básico universal e a outra utopia é a tributação das empresas que utilizem as mais diversas tecnologias, como a automação e a robótica, em substituição da criação de postos de trabalho para os cidadãos. A incipiente discussão destas duas utopias bem como as forças poderosas do status quo mundial trava em absoluto qualquer sonho na sua concretização nas décadas vindouras. Por outro lado, as alterações climáticas continuam a ser o bomba relógio da humanidade e pouco ou nada se tem pensado fazer para REALMENTE resolver o problema. Creio que a solução, por curioso que possa parecer, passa por uma nova invenção: num tempo em que estamos todos a usar máscaras de proteção faciais contra o virus da covid19 (e, alguns também por causa da poluição), e uma vez que é inconcretizável mudar toda a frota rodoviária do mundo, pelos mais diversos motivos, para frota rodoviária verde, a solução mais inteligente seria uma adaptação da frota rodoviária existente colocando-lhe também uma "máscara", i.e., a investigação e inovação deveria direcionar-se para a descoberta e concretização de filtros de particulas poluentes que se colocassem nos tubos de escape dos veículos, como se de máscaras se tratasse, que seriam removidos e removíveis de acordo com a tecnologia conseguida. Não é impossível. É de facto, mais racional, tratar as questões na fonte, pela raiz, uma vez que nós humanos podemos usar máscara mas o ecossistema do planeta não e não creio que fosse descoberta tão difícil de conseguir dadas as tecnologias já existentes. O mundo move-se por interesses, as instituições são, por definição, entidades conservadoras e lentas na mudança, e isso verifica-se na falta de resposta que está a ser dada às populações no combate a esta pandemia, pelo facto de as pessoas estarem com dificuldades para sobreviver e as elites, ou as classes políticas, ainda se quedarem em discussões prolongadas e infrutíferas sobre aspectos minunciosos da necessidade de enfrentar esta questão, porque efectivamente mesmo nas maiores das desgraças há sempre quem queira vender lenços. Ouve-se sempre falar no apoio às empresas, mas as empresas não precisam de alimentos para viver, de uma casa para habitar, ou de tratamentos de saúde para estar bem. A lentidão das respostas e as forças impeditivas de um mundo mais harmonioso têm de ser denunciadas e combatidas, com inteligência, serenidade e humanismo. O seres serão mais humanos e o planeta mais rico. Por um futuro diferente com marco viral. Haja luz e esperança!