Habitação e lucros
. Enquanto a senhora Lagarde ajuda os seus amigos banqueiros, que todos os dias anunciam lucros estratosféricos e lucros recorde, a "piolheira" na expressão do Rei D. Carlos (aquele que levou com uma bala na testa, imagine-se porquê...), continua sem acesso à habitação, a uma vida digna. Todos os dias são recebidas notícias de senhorios e de inquilinos em contendas, rescisões contratuais ou outras relações que tais. A última semana, para além do anúncio dos lucros dos bancos nunca antes alcançados e dos juros nunca antes tão elevados, tivemos a informação de que, para comprar casa em Lisboa, são necessários cerca de 3 mil euros mensais para liquidar a prestação do empréstimo. Ora, sendo necessário que seja feita a defesa de um direito individual e, deste modo, de familias monoparentais (porque ninguém tem que ser obrigado a viver junto, muito menos por causa de pagar contas....), e tendo em conta que o esforço financeiro estipulado pelos especialistas em finanças pessoais não deve ultrapassar os 30% do rendimento, cada criatura deve arrecadar pelo menos 9 mil euros mensais para poder viver em Lisboa!!! Ora, nem as atividades menos lícitas conseguem obter este tipo de rendimentos durante 20, 30, 40 anos!!!! Quando se vêm apartamentos à venda em Lisboa por milhão e meio de euros (apartamentos novos, sim, ninguém deve ser obrigado a viver em pardilheiros que é do que se trata de metade da habitação em Lisboa, casas antigas, sem condições, sem elevadores, mal estruturadas, sem luz natural, etc, etc...) pergunta-se para quem se destinam as mesmas porque mesmo para nórdicos, alemães, ingleses e americanos (essa raça....) os valores são totalmente fora da realidade....Poderá, por isso concluir-se que o actual estado de situação da habitação em geral em Portugal, e da habitação em Lisboa, em concreto, é completamente incomportável. Se somos bons a fazer grandes eventos (que somos!) porque não fazer o evento da construção de 50 mil habitações em tempo recorde??? Depois há outra possibilidade de mitigação do problema a que o poder político, infelizmente, está completamente alheio, e distante, por inércia ou outro motivo qualquer: o problema de milhares de edificios publicos abandonados que se encontram espalhados um pouco por todo o país. Para além destes dois vectores: fomento da construção nova privada para diminuição dos preços através do aumento da oferta, e recuperação do património público para construção e habitação, há outras duas discussões extremamente importantes a fazer: fomento de cooperativas de habitação, tal como se fez no passado para resolver este mesmo problema, e, habitação social, para quêm, como e porquê? Porque, qual é a diferença entre o roto e o esfarrapado? nenhuma....Se for para ter habitação de graça a vida toda e o requisito for morar numa barraca durante 2/3 anos, acredito que muitos, mas mesmo muitos estarão disponíveis a isso. O problema da habitação é real, é urgentíssimo, e impacta a vida de todo um povo, obrigado a viver onde não quer, agravado pelo facto de os sucessivos governos castrarem as pernas aos funcionários publicos, através da hiper-centralização administrativa da máquina estatal em Lisboa e não apostando na digitalização e trabalho remoto dos seus funcionários. Mais do que ninguém e em primeiro lugar, e uma vez que funcionário publico não é despedido, pelo que o seu trabalho é sempre o mesmo durante a sua carreira de 40 anos, esses poderiam muito bem, ter incentivos para descentralizar, para viver com mais qualidade, fora dos grandes centros urbanos, principalmente, Lisboa e Porto. Falta visão e vontade política. É pena. Os banqueiros agradecem!