Política e Governos
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Se estivermos atentos ao mundo, metade do mundo não vota, pois metade do mundo vive em regimes autocráticos. Da outra metade que sobra, metade também não vota: os abstencionistas das democracias. É assim tão estranho? Não é. Dispender energia diariamente a prestar atenção ao mundo e às notícias é uma opção e uma escolha pessoal. Milhões de pessoas vivem as suas vidas sem política incluída. No fundo, têm uma certeza: as suas vidas não mudam, ou mudam muito muito pouco, na generalidade e para a generalidade das pessoas, com a ação governativa. Significa que por um lado passamos a nossa vida a gastar energia em absolutamente nada que interesse, porque não nos impacta, por outro lado, percepcionamos que nada muda porque o sistema está tão embrenhado em ser sempre mais do mesmo, a História tão igual a si própria, a condição humana tão igual a si própria, os fenómenos de poder tão iguais a si próprios, e as ações governativas tão vazias de conteúdo, independentemente de ser esquerda, direita, extrema esquerda extrema direita, democracia, ditadura que nada, ou pouco muda....A vida simplesmente acontece. Acontece e desenrola-se com os nossos comportamentos individuais e pessoais e as nossas ações quotidianas. Aqui reside o segredo. Quem faz o mundo não são os políticos. Quem faz o mundo são os cidadãos que tomam pulso às coisas, que quotidianamente e frenéticamente se dedicam a algo que os preenche, que sonham, que constroem, dia a dia, migalha a migalha, ampliando a sua "casa" para além do seu espaço interior. Fazem da vida uma construção de vitórias e derrotas, conquistas, dedicação, criatividade, e muito, muito, muito, muito trabalho. Claro que, ter um projecto pessoal é ótimo, e ter um projecto pessoal próprio e independente melhor ainda! É o propósito. O nosso propósito. O motivo pelas quais estamos aqui, o que nos move, o que gostamos e queremos fazer da e com a nossa vida. As infindáveis e quotidianas escolhas com que nos deparamos. Aqui, a discussão da polis é entendida como um projecto entediante, irritante, e sugador de energias. Compreendo. Como compreendo! Para uns poderá até ser fruto de "forças ocultas" metafísicas, os cordeis que comandam as marionetas humanas....Quem sabe? Ninguém. Rejeito a pré-destinação. A minha visão é uma visão de que somos nós que comandamos, bem ou mal, em todos os momentos, naturalmente limitados pelas nossas circunstâncias, as nossas vidas, e nunca temos certezas do que o futuro nos reserva, porque do próximo segundo, do próximo minuto, ninguém sabe nada...Encerra-se assim a percepção da inutilidade da política das nossas vidas como conformadora, orientadora e modeladora. Raras vezes o é, efetivamente, passando apenas por ser um espetáculo de entretenimento, desgastante, desorientador e frustrante. Todas as pessoas esperam ter uma vida melhor. Essa vida melhor não se traduz necessariamente em mais património material, mas apenas em mais bem estar geral, pois um não decorre obrigatoriamente do outro. Assim, o foco deve ser um foco individual, de autocuidado, autoconhecimento, trabalho, muito trabalho, e de sentimento de propósito, com verdade, honestidade, integridade, em harmonia com o ambiente que nos rodeia, o nosso mundo, o mundo que nós governamos, porque é esse, acima de tudo, o mais importante das nossas vidas.