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Uma das sociedades mais ricas e mais igualitárias, influenciadora de valores ocidentais, sobretudo do valor da liberdade, expõe a nu, através de uma cidadã na sua simples capacidade poltitico/económico/social e no seu conhecimento pessoal e individual, um dado triste, um dado revelador do mundo em que vivemos, um dado demonstrador das sociedades, das mais desenvolvidas (fará nas outras!).... 1% é a percentagem de investimento financeiro do mundo capitalista em empresas detidas e geridas por mulheres. 1%. 1% no mundo ocidentalizado que tanto bolsa sobre a importância da igualdade de género. Quando somos crianças, nós, mulheres, somos extremamente condicionadas, inconscientemente condicionada, socialmente afastadas durante o resto das nossas vidas. Conseguimos ganhar algum espaço quando passámos a herdar, quando adquirimos também direito há herança dos nossos pais, quando adquirimos algum espaço no mercado de trabalho oficial, no mercado remunerado. Nós mulheres, se não tivessemos a capacidade e o direito de herdar (que é muito recente na história da humanidade) estávamos ainda no tempo das cavernas. O mundo continua a ser feito pelos homens, para os homens e com os homens. A mulher que se safa casa ou herda, como a maioria não herda, a pressão social é para casar, para passar a depender de um homem em troca de outro (do marido em troca do pai). A tirania da beleza mais não é do que um instrumento de concorrência entre mulheres pelos homens, a industria de beleza um negócio cujo alvo são mulheres, para lucro dos homens, um ensaboamento mental nas mulheres para perpetuação do poder nos homens. Enquanto crescia evidentemente me apercebia das diferenças sociais e económicas entre homens e mulheres, mas também crescia a sonhar.....a sonhar que um dia teria o meu trabalho, a sonhar que um dia teria o meu dinheiro, a sonhar que um dia teria o meu carro, a sonhar que um dia teria a minha casa, a sonhar que um dia teria o meu amor, a sonhar que um dia teria os meus filhos, a sonhar que um dia teria os meus netos, a sonhar que um dia teria as minhas felicidades, as minhas conquistas, os meus progressos, que teria basicamente, o que os meus pais e os pais das outras crianças iguais a mim tinham, (mas sem as partes más, naturalmente, porque quando nos apercebíamos das coisas más obviamente tomávamos como aprendizagens...para não fazer igual...)...Porém, o país mudou, nós não mudámos, as condicionantes se entranharam desde muito cedo e as escolhas, bem, as escolhas foram todas erradas....A nossa cultura, a cultura portuguesa é muito difícil, muito atrasada, somos muito atrasados, comunicamos muito mal e muito pouco, somos arrogantes, temos a mania que sabemos muito, mas somos pobres de espírito e de bolso....As mulheres em Portugal sofrem muito.....A desigualdade é uma realidade, realidade essa extremamente acentuada (e eu sinto-o) , iníqua, incapacitante na medida que nos coarta a capacidade de sonhar, de fazer, de concretizar, de avançar, de evoluir, porque quem nos faz evoluir evolui connosco, em familia, nas amizades e na qualidade das mesmas, nas nossas pequenas comunidades, no nosso país. Portugal é um país que eu amo, mas rejeito amar, os homens são uns animais que eu amo, mas que rejeito amar, as mulheres são pessoas que eu admiro, por quem eu luto, por mim, por elas, pela plenitude de concretização dos nossos sonhos, e não de apenas 1%, ou de apenas metade. Não posso deixar de esquecer que metade de metade do planeta, que as mulheres que compõem metade do planeta, não têm sequer capacidade ou direito a sonhar, dada a imposição cultural e religiosa de supremacia absoluta do género masculino e da objetificação utilitarista das mulheres dessas realidades. As mulheres devem ser educadas de que também podem, e tudo têm, para ter independência e liberdade emocional e financeira, direito de escolha, possibilidade de crescimento pessoal, sem a necessidade de ajuda de qualquer homem. As mulheres hoje dependem da boa vontade dos homens de ter presença e ocupar espaços de liderança, de construção de negócios e empresas sem os mesmos. Portugal tem duas muito honrosas mulheres que fazem e fizeram a exceção no mundo profissional: D. Antonia Adelaide Ferreira e Manuela Medeiros. A primeira já era abastada, a segunda veio do nada. Tendo em conta que mesmo as poucas que herdam, herdam muito tarde na vida (habitualmente). Por outro lado, um dos grandes pecados capitais neste país é também ficar a pensar na herança.....Ideia típica de país (mais) atrasado. Herança é algo que deriva de pessoa morta. Não há herança de pessoa viva. Também para assinalar que, muitas vezes, assistimos a uma ideia generalizada de que o que é dos pais é dos filhos mas a realidade não é essa. Assistimos a uma discrepância brutal entre a qualidade de vida, os benefícios, os conseguimentos de uma geração atual que é bastante mais velha, em detrimento de duas a três gerações abaixo que vivem e sobrevivem com extremas dificuldades, dificuldades advindas de novas realidades sociais, de aumento do custo generalizado de vida, do aumento brutal dos preços das habitações, realidades de estagnam um país, porque dificultam ou impedem por completo a mobilidade geográfica, seja por motivos profissionais, seja por motivos pessoais, seja por um período médio de tempo, seja por um curto período de tempo, seja até, pasme-se, em férias. Algo vai mal quando fazer férias a 8 horas de avião fica mais em conta do que fazer férias a 2 horas de carro. Algo vai mal quando as mulheres são eternamente inferiorizadas, desvalorizadas, arredadas dos negócios, dos trabalhos, despedidas porque estão grávidas ou nem sequer contratadas por serem mulheres em idade fértil.....O mundo precisa de mudar, porque ninguém deve poder sonhar pela metade e conseguir metade da vida, do que a vida nos trás....